“Este é um problema dos outros”
A pergunta que fazemos é esta: “ Por que pessoas que bebem muito, não enxergam o problema e o que está acontecendo com elas e não deixam de beber?”
A razão que os alcoolistas não consegues perceber o que está acontecendo com eles é compreensível.
Por muitas razões, à medida que a doença se desenvolve, o doente se torna cada vez mais incapaz de manter sob seu domínio o próprio comportamento e começa a perder o controle de suas emoções. O) seu sistema de defesa continua a crescer de sorte que conseguem sobreviver em face dos problemas que encontram! Quanto maior é a angústia que experimentam, tanto mais elevado e rígido se torna o seu sistema de defesa; e todo esse processo é inconsistente. Os alcoolistas desconhecem oque está acontecendo em seu íntimo. Até que, por fim, eles tornam-se, de fato, vítimas de seu próprio mecanismo de defesa.
À medida que cresce a perturbação emocional do indivíduo dependente de álcool, a atividade racional de defesa se transforma num verdadeiro desajuste mental.
Já, à medida que cresce o volume dos sentimentos negativos, embora bloqueados por uma muralha de defesas racionais eficientes, o peso desta massa se torna cada vez mais difícil de suportar. Então um outro sistema de defesa poderoso, igualmente inconsciente, entra em ação, a PROJEÇÃO.
A projeção é o processo de descarregar sobre os outros, o ódio que a pessoa tem dentro de sí. Quanto mais detestáveis os alcoolistas inconscientemente vêem a sí próprio, tanto mais eles se vêem cercados de pessoas detestáveis.
Esta projeção pode manifestar-se de diversas maneiras; desde simples queixas passivas, até uma agressividade fora do controle. De qualquer forma, essa carga de ódio de sí mesmo precisa ser extravasada para que o alcoolista possa sobreviver.
Ironicamente, as pessoas mais chegadas ou importantes na vida do alcoolista acabam se tornando as maiores vítimas, onde é extravasada a maior parte dessa projeção.
Embora os alcoolistas se detestem a sí mesmos, a sua projeção funciona tão bem a ponto deles acreditarem estar atacando pessoas realmente detestáveis. Os alcoolistas precisam ver estas coisas sob este prisma, pois se soubessem que estão usando o expediente da projeção o mesmo não funcionaria. Portanto, o processo precisa permanecer inconsciente. (Teria o processo todo escorrido por uma fenda no muro, atingindo o consciente? Nota MH).
Um fator de complicação (no alcoolismo como um todo) são as pessoas que convivem com o alcoolista. Elas são também humanas e, portanto vulneráveis e mesmo que sintam algo de terrivelmente errado, desconhecem o que está acontecendo. Sentem-se culpados toda vez que a carga de ódio está sendo extravasada sobre elas e perguntam-se “ – Oque eu fiz para provocar isto?”. E como vítimas culpadas da projeção, elas começam a manobrar tudo ao seu redor, para tentar “corrigir” o erro cometido.
Com os constantes fracassos em acertar, crescem também seus sentimentos de impotência e frustração, deixando-as mais vulneráveis a projeções de alcoolista. Acabam então ficando também elas emocionalmente angustiadas, tanto quanto o dependente. Isto significa que todo alcoolista doente acaba cercado de “outros doentes” não alcoolistas.
“O alcoolismo abrange somente os alcoolistas”. Esta é a melhor maneira de confirmar a extensão do problema. Embora haja apenas um alcoolista na família, todos os membros da mesma, sofrem por causa deste mal, o alcoolismo.
Naturalmente o cônjuge é o mais envolvido e afetado. A única diferença entre o cônjuge (quando este não bebe), e o alcoolista, é que o primeiro não se encontra fisicamente envolvido com o álcool. Excluindo este aspecto, ambos têm todos os outros sintomas. Logo, o abstêmio é tão doente quanto o que bebe. Exceção feita ao fato do dano físico que ocorre somente com o alcoolista, o doente abstêmio é quase um retrato dele.
Então estes doentes abstêmios também começam a projetar as mesmas massas de sentimentos negativos sobre os filhos, outros membros da família, enfim, sobre todos aqueles que os cercam e também sobre o próprio alcoolista doente! Passam a ser vítimas das suas próprias defesas, ao invés de serem por estas defesas ajudadas. Sem contato com a realidade –da mesma forma que o alcoolista- elas dizem: – “Eu não preciso de ajuda, o problema é dele e não meu”.
Resumindo, as pessoas dependentes do álcool possuem um sistema de defesa tão desenvolvido, a ponto de se enganarem a sí próprios. Quando passam para o estado de dependência perniciosa, atingem um ponto em que não se trata mais de saber se compreendem o que está acontecendo com elas e sim se elas realmente conseguem compreender. Com o tempo elas realmente não conseguem mais compreender.
Estas defesas se tornam cada vez mais rígidas, como também estes indivíduos desenvolvem dentro de si uma rigidez progressiva em relação ao seu próprio estilo de vida.
Tornam-se incapazes de adaptar-se a mudanças que acontecem no ambiente em que vivem. Principalmente se tais mudanças vierem inesperadamente, chagando a tal ponto que até mesmo aquilo que está programado em seu dia a dia torna-se difícil de ser cumprido.
Encontram-se rigidamente presos a um padrão de vida do qual não têm consciência plena.